As transformações no mercado de trabalho são notáveis, quem está ativo no mundo corporativo sabe e sente na pele muitas mudanças de cenário. Num passado não muito distante, saber uma segunda língua e conhecer um pouco de Excel já era o suficiente para gerar diferenciação em processos seletivos e promoções. Hoje já não funciona mais assim. Essas competências são praticamente intrínsecas nas descrições de vagas, algo que antes era item de diferenciação, hoje já é requisito obrigatório para ingressar no mercado de trabalho.
Segundo o IBGE, a taxa de desemprego atingiu 12,6% no último trimestre de 2021. Este número representa milhões de brasileiros em busca de uma oportunidade de trabalho. Em contrapartida, vemos a corrida das empresas para encontrar profissionais qualificados. Existe um Gap muito grande entre a oferta e a demanda na área de recrutamento e seleção. Tiago Salomão, sócio da consultoria de carreira Korn Ferry, afirmou em uma entrevista para a Infomoney que apesar de o desemprego estar alto, faltam profissionais que se adequem às demandas exigidas. “Temos uma fila gigante de pessoas buscando emprego, e uma fila também enorme de empresas procurando profissionais. Mas não há um encontro entre essa oferta e demanda. As empresas não encontram quem precisam porque faltam profissionais com as habilidades chaves”, afirma.
Estamos vivendo a era exponencial, onde não há tempo suficiente de adaptação para as mudanças. Tudo acontece de forma rápida, dinâmica e quando estamos quase nos adaptando a um cenário novo, outro diferente chega e levanta a poeira de novo. A era exponencial demanda competências socioemocionais específicas do ser humano. Uma vez que estamos cada vez mais lidando com máquinas e sistemas, há algumas características que precisamos desenvolver para conseguir sobreviver e evoluir neste meio.
O Fórum Econômico Mundial divulgou um relatório com as 15 principais habilidades para o futuro, e esta lista mostra que 50% de todos os profissionais ativos precisarão de requalificação até 2025. O pensamento crítico e a solução de problemas estão no topo da lista de habilidades que os empregadores acreditam que crescerão em destaque nos próximos cinco anos. Eles têm sido consistentes desde o primeiro relatório em 2016.
Este ano, estão surgindo novas habilidades em autogestão, como aprendizagem ativa, resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade.
O Fórum estima que até 2025, 85 milhões de empregos podem ser substituídos por uma mudança na divisão do trabalho entre humanos e máquinas. Mas ainda mais empregos – 97 milhões – podem surgir mais adaptados à nova divisão de trabalho entre humanos, máquinas e algoritmos. Este dado confirma a prática já vivenciada pelas consultorias de carreiras, que estão sentindo na pele a dificuldade para encontrar profissionais qualificados para essas vagas.
Confira as 15 habilidades com maior demanda para 2025, segundo o Fórum Econômico Mundial:
- Pensamento analítico e inovação
- Aprendizado ativo e estratégias de aprendizado
- Resolução de problemas complexos
- Pensamento crítico e análise
- Criatividade, originalidade e iniciativa
- Liderança e influência
- Uso, monitoramento e controle de tecnologia
- Programação e design de tecnologia
- Resiliência, tolerância a estresse e flexibilidade
- Raciocínio, resolução de problemas e ideação
- Inteligência emocional
- Teste e experiência de usuário
- Orientação a serviços
- Avaliação e análise de sistemas
- Persuasão e negociação
Agora, calma!!!!
Antes de sair comprando milhões de cursos novos e se matriculando em 3 ou 4 universidades, é importante entender o caminho da aprendizagem para a qualificação.
Quando vemos as competências socioemocionais dominando o topo da lista, não podemos concluir que as competências técnicas não são mais tão importantes, tá bom?! É um erro pensar que não precisa mais fazer faculdade, falar outra língua ou saber Excel avançado, a verdade é que só isso já não é suficiente. É preciso fazer uma mistura dessas habilidades técnicas com uma base sólida de competências socioemocionais.
Não é exatamente uma habilidade de programação, de forma isolada, que vai levar a uma carreira de sucesso. Criatividade, comunicação, resolução de problemas serão habilidades que não mudam e nos fazem humanos e programadores melhores.
Por onde começar?
Primeiramente é importante que você faça uma análise do seu cenário e pense no longo prazo do desempenho da sua função. Quais são as habilidades da lista que mais se encaixam na sua área de atuação? Eu acredito que as 6 primeiras da lista fazem sentido em todas as áreas e são importantes para o desenvolvimento de qualquer carreira.
Para desenvolver competências socioemocionais precisamos de INTELIGÊNCIA EMOCIONAL. Faz sentido, não faz?
O psicólogo e jornalista científico Daniel Goleman tornou público e prático esses conhecimentos através do seu livro “Inteligência Emocional”. No livro ele divide o estudo em 4 pilares: autoconhecimento, gestão das emoções, empatia e sociabilidade. Esses pilares, quando conectados, formam uma nova visão sobre a real inteligência
“Se as suas habilidades emocionais não estiverem bem desenvolvidas, se você não tiver consciência de si mesmo, não for capaz de gerenciar seu stress e não tiver empatia e boas relações, simplesmente não importa quão inteligente você seja. Você não vai muito longe.”
Daniel Goleman
Apesar desta competência estar como 11ª colocada na lista, acredito que a união desses pilares são o ponto de partida para muitas outras conexões. Trabalhar essas questões, certamente, abre as portas para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais que, alinhadas às suas competências técnicas irão formar a base para alavancar a sua carreira profissional.
Além disso, para complementar essa jornada de autodesenvolvimento, há mais 4 pontos importantes para acelerar o processo de aprendizagem:
1 – Esteja em dia com a sua saúde emocional
Cuidar da saúde emocional é a base para desenvolver a inteligência e as competências socioemocionais. Tudo está interligado e uma coisa não funciona sem a outra por muito tempo.
Pequenos detalhes podem se transformar em grandes bolas de neve e fazer você perder o controle das suas emoções, por isso é importante não varrer sujeiras pra debaixo do tapete. Situações desconfortáveis precisam ser resolvidas, pois com o tempo podem prejudicar seus comportamentos no trabalho, seu foco, dedicação e suas relações com os colegas. Para que o momento da “explosão” não chegue, é preciso não deixar que os sentimentos se acumulem. Comunicar-se com clareza, ter momentos de descompressão, estabelecer limites nas relações e conseguir expressar suas insatisfações com tato são habilidades socioemocionais importantes para o ambiente de trabalho.
2 – Invista nas suas relações interpessoais
No mundo corporativo não se faz nada sozinho. Não existe sucesso isolado ou EUquipe de sucesso. A construção de relacionamentos saudáveis reflete diretamente na colaboração e nos resultados das equipes.
É importante construir laços fortes com as pessoas. Quando você se relaciona bem, tem um bom networking e se conecta com as pessoas ao seu redor, mais chances você terá de influenciá-las para agir em seu favor. Essas construções saudáveis beneficiam a todos os envolvidos.
3 – Trabalhe sua autoconfiança
A autoconfiança saudável te levará mais longe, acredite. Você se torna aquilo que acredita ser. O seu pensamento sobre suas competências e capacidades precisa estar instalado na realidade, sem positividade tóxica, porém com a consciência de que temos capacidade biológica de desenvolver e aprender coisas novas todos os dias. Confiar que é possível torna as coisas possíveis.
Autoconfiança demanda preparo. Avalie suas condições, acredite na capacidade biológica do seu cérebro de aprender e mire o desenvolvimento. Se você pensar que não é capaz, sinto dizer… não será mesmo!
4 – Seja resiliente
Não podemos romantizar sofrimento, porque isso já tá bem batido e não traz benefícios, mas precisamos aprender a lidar com o fracasso. O mundo evolui nas crises, o corpo fortalece a imunidade através das diversas contaminações. Nós nascemos configurados para sermos resilientes.
É importante parar de lutar contra os problemas e encarar os fracassos como degraus. Nem sempre tudo será da forma que queremos ou que planejamos. As expectativas sempre serão criadas, faz parte da nossa capacidade de desejar e sonhar, mas quando elas não forem atingidas precisamos ter velocidade e maturidade para sacudir a poeira e fazer limonada com os limões que recebemos.
A resiliência é uma competência sistêmica que permite adaptação. Para sobreviver e evoluir na era exponencial e nesse meio de incertezas, precisamos estar abertos e preparados para se adaptar aos diferentes cenários. Isso vai nos ajudar vencer o leão nosso de cada dia.
Flávia Strombeck